Folia de Reis no interior de Minas Gerais - 1ª parte

A Folia de Reis é uma manifestação cultural-religiosa-popular muito presente no interior do Brasil, especialmente da Região Sudeste. Entre o Natal e o dia 06 de janeiro (dia da festa de Santos Reis na Igreja Católica) os grupos saem para promover a cantoria e arrecadar doações (geralmente em dinheiro) O modelo das fardas, da música e das regras variam de acordo com a região. Neste post mostramos a Folia de Reis dos Bertoldos, do município de Santana de Pirapama (MG).

Jovem folião de Reis fardado para representar o Rei Melchior - comunidade de Gerais 03/01/2016

A janta de folia é um acontecimento. Algumas famílias abrem as portas anualmente para receber a folia. Por volta de sete horas da noite (que em época de horário de verão ainda é dia) os foliões começam a chegar. Antes chegavam a pé ou a cavalo. Hoje chegam de carro. Chegam os foliões e chegam muitas outras pessoas. Parentes, amigos, pessoas que apreciam uma folia de reis.

Quando todos os foliões já estão presentes os serventes começam a fazer os pratos. Serventes são foliões que têm a função de servir os colegas. Geralmente são dois ou três conforme a quantidade de pessoas a serem servidas. Antigamente as mulheres, crianças e até homens que não eram foliões deixavam a cozinha nesse momento. Só os foliões eram servidos. Depois que esses comiam era a vez das demais pessoas. Hoje em dia, todos são servidos ao mesmo tempo.

O cardápio pouco mudou nos últimos 30 anos. 

O cardápio sofreu pouca variação nos últimos trinta anos. O que mudou mesmo foi a quantidade. Arroz, tutu de feijão e frango sempre foi servido em grande quantidade. Mas, a macarronada e a maionese acabavam logo. Apenas os foliões e os primeiros convidados podiam apreciar esses acepipes. Eram produtos caros e raros. Hoje em dia os alimentos são abundantes; maionese e macarronada são pratos cotidianos. E na janta de folia todos podem se fartar à vontade. Às vezes o frango caipira é trocado por carne bovina; ou frango de granja. Sinal dos tempos!

O cenário também mudou. As casas estão maiores, piso pavimentado, iluminado por luz elétrica. É, as lamparinas foram aposentadas. Os presépios hoje em dia são decorados com luzes pisca-pisca. A comida já não é feita em fornalhas e trempes, então, os tachos não são mais pretos de carvão. Fogões industriais, geladeiras e freezers tornaram menos complicado o processo da cozinha. Acender o fogo nas trempes e fornalhas era muito difícil em tempos de muita chuva e lenha molhada. As cozinhas pequenas não facilitavam em nada. Hoje em dia as cozinhas são amplas, o fogão é a gás, mas, ironicamente não chove. Isso é outra coisa que mudou. Se antes os foliões andavam de uma casa para outra a pé debaixo de chuva hoje vão de carro sobre a poeira.

Afinando os instrumentos

Quando todos já comeram é hora do agradecimento. Para o agradecimento os foliões tomam suas posições: os guardas-mores vestem suas fardas, os instrumentistas se apossam de seus instrumentos. Todos se dirigem para a cozinha enquanto é tocada uma marcha. É perto das panelas que um dos foliões (geralmente escolhido entre os melhores oradores) conduz o agradecimento: fala sobre uma passagem das Escrituras Sagradas, pede que sejam rezados Pais Nossos e Ave Marias por várias intenções e agradece a família anfitriã pela hospitalidade.

Terminado o agradecimento todos os foliões se dirigem para a entrada da casa, cuja porta principal é fechada e as luzes externas apagadas. Começa a cantoria com o “Grande Dia”, um conjunto de versos que celebra o grande acontecimento que foi o nascimento de Jesus.

Continua em outro post... Folia de Reis no interior de Minas Gerais - 2ª parte